O Venerar e o Adorar




Porque tratar deste assunto? 

1.        No número de católicos hoje no mundo, que ultrapassa mais de um bilhão, é compreensível não se encontrar todos em nível exemplar quanto à compreensão daquilo que professam: há recém ingressos e também os que sofrem, naturalmente, de dificuldades para adquirir formação ideal. Também não são poucos os afetados pelas sutilezas de doutrinas outras no ambiente cultural em que vivem. E tudo isso significa: não poucos católicos podem realmente estar a carecer de avanço e consolidação na própria fé. Porque, enquanto estamos neste mundo a fé se nos mostra verdadeira peregrinação; com passos a serem vencidos dia após dia. Peregrinação à qual até a Mãe de Jesus teve de se submeter. Digo melhor, até Jesus. Com efeito, não por acaso o Evangelho registra que até a Ele a Serpente ousou tentar.
2.      Outro motivo, o fato de muito comumente nos depararmos, principalmente na internet, com acusações ao catolicismo apontando-o como falsa religião cristã; cristianismo paganizado; religião de adoradores de imagens e de Maria. E como pretexto para uma tal acusação apontam a nossa veneração aos santos e às imagens de santos; como se isso significasse atos de adoração a “deuses”.
3.     Tal juízo poderia ser só um mal entendimento. Pois qualquer um enviado pelo Anticristo para perseguir cristãos, que entre num templo católico em horário de missa e fique a escutar o que dizemos, sairá dali, sem a menor dúvida, certo de que realmente somos cristãos. E todos os católicos seriam listados para sofrer a sorte que o Anticristo determinasse. 
No entanto, curiosamente, há protestantes que insistem em dizer que o catolicismo não dá mostra de ser religião autenticamente cristã. Digo "curiosamente", porque tal pensar não decorre de falta de clareza naquilo que professamos. Pois qualquer pessoa lúcida, e intelectualmente honesta, ao pôr os olhos nos documentos da Igreja imediatamente constata  a nossa perfeita identidade cristã. De modo que, qualquer um que continua a acusar o catolicismo de anticristianismo ou lhe falta a devida lucidez de uma pessoa adulta ou o faz por inconfessado interesse de ordem proselitista. Com efeito, conflitos de interesse são componentes básicos do fenômeno da vida; desde o mais minúsculo ser vivo às grandes Organizações. Esteve por trás do ato de Caim ao matar Abel. Assim como, da perseguição do Sinédrio a Jesus. Assim como se acha nessa desnecessária e persistente dissensão entre cristãos. Pois, a quem isso realmente interessa, finalmente? Só, com certeza, ao Anticristo. Que já opera contra Cristo desde o tempo dos apóstolos.

Então, o que entendemos por veneração e adoração
4.      É preciso logo saber em que sentido os católicos usam a palavra “venerar”. Quem estuda o pensar humano sabe que para entender o significado de certa palavra-chave num sistema de pensamento não basta abrir dicionários nem só observar o que a Filologia (o estudo das palavras) diz. Para bem entender o pensamento de um filósofo, por exemplo, é preciso saber o que ele próprio esclarece quanto ao seu uso de certas palavras. 
5.     Portanto, temos de repetir à exaustão que, tanto no pensamento quanto na prática católica a palavra venerar nunca se confunde com adorar. Porque, na verdade, uma coisa é diferente da outra e não graus diferentes de uma mesma coisa. O ato de adorar não é um estágio, o último estágio do ato de venerar. Adorar é uma outra coisa.
·        Venerar: sentimento de respeito e honra devidos a alguém ou a algo que o represente.
·        Adorar: comportamento de absoluta submissão ao adorado. E este “adorado”, para ser justo, só pode ser Deus. E nenhum outro ser.
Portanto, posso venerar alguém, ou algo a ele relacionado e, mesmo assim, não me ocorre adorá-lo. Pois àquilo que venero posso até nem  prestar mínima submissão; muito menos a submissão absoluta. Isso vale tanto no campo “profano” quanto religioso.
Muitas são as coisas veneráveis, tanto no campo religioso quanto profano. Mas só Deus deve ser adorado. 
É claro que quem O adora também O venera. Mas, em que medida? 
A veneração devida à Deus não se confunde com nenhuma devida a qualquer criatura. A veneração devida a Deus é “máxima”. Aliás, de tal ordem que é sem medida. Pois medida só se aplica ao mensurável, ao finito, às criaturas.
E é nesse sentido de veneração mensurável, criatural, que falamos em superveneração à Maria, a Mãe de Jesus. Comparamo-la não com Deus; não com seu filho, Jesus; mas com Abraão, Moisés, Elias..., eu, você.
E como não supervenerar alguém que sabemos ter convivido por trinta anos, sob o mesmo teto, com o Nosso Redentor e Salvador; dialogado com Ele todos os dias; tocado n’Ele; fazendo-Lhe perguntas e recebendo d’Ele respostas? Ainda mais: alguém que O concebeu em seu seio não por acaso, mas eleita por Deus.

Que provas alguém tem de alguma coisa, o que quer que seja, capaz de minimizá-la, pondo-a no mesmo nível de veneração que qualquer um de nós? 
A suspeita de que ela teria tido outros filhos?
O achar que Deus não quebraria a ordem natural do pecado para recriar uma criatura humana imaculada; aquela que seria predestinada a ser a Mãe do Senhor? E por que Deus não o faria? Por não querer ou por não poder?

Venerar imagens

6.     Se venerar é respeito devido, disso decorre não ser estranho venerar alguém, ou algo que se nos mostre venerável, por meio de imagens e símbolos que o representem. E não tem que ser o retrato, mas qualquer coisa que o represente. Quando meninos, por exemplo, éramos levados a brigar instados por outros que traçavam um risco no chão e diziam: “este risco é sua mãe; e aquele, a mãe dele”. Para não nos mostrarmos covardes um dos dois passaria o pé sobre o risco correspondente à mãe do outro. Eram só riscos no chão. Mas entendíamos o que eles representavam. No campo profano, bandeiras são exemplos do venerar através de imagem. E no campo religioso, dois riscos ou dois paus formando uma cruz também o é. E ninguém em são juízo pensa que um patriota venera o pano e que o cristão venera os paus ou riscos. Mas sim aquele ou aquilo que as imagens reportam.

O venerar “santos”.

7.      A veneração que temos aos “santos” em nada se parece ao que se verificava no paganismo. Nem ao que hoje se apresenta a partir do “humanismo”.
“Santo” para nós é todo aquele, tão humano quanto nós; nascido sob o pecado, como nós; tão dependentes da redenção e salvação em Cristo quanto nós; mas que foi exemplo de vida dócil ao Espírito Santo. O termo “santo” não lhes é dado por conta de uma virtude natural neles, mas sim de reconhecermos ter neles, e em grande medida, agido o Espírito Santo  em favor da construção da Igreja, corpo Místico de Cristo. Portanto, ao venerarmos os “santos” estamos na verdade reconhecendo e louvando a Deus pelo que Deus operou neles em nosso benefício.    

O ADORAR a Deus por meio de imagens

8.     Avancemos agora para o mais difícil de alguns compreenderem: o adorar a Deus por meio de "imagens". Porque, como podemos se no próprio Evangelho está dito que devemos adorá-Lo em espírito e verdade? O que isso significa na prática?
Acontece que nós, católicos, não adoramos, por exemplo, o livro a Bíblia. Ao livro nós veneramos. O que adoramos é a Palavra, Jesus.
Mesmo quando dizemos, em nossos cantos, “a Bíblia é a palavra de Deus” não estamos nos referimos ao objeto, papel e tinta, mas a Cristo mesmo; que de forma explícita ou implícita é em torno de Quem toda a Sagrada Escritura gira.
9.     Perceber a Palavra (o Cristo), nas palavras, no livro, nos acontecimentos e em certos símbolos significa adorá-Lo em espírito e verdade. O próprio nome “Jesus”, escrito ou falado, não é Ele em si, mas uma imagem gráfica ou sonora referente à Pessoa d’Ele. 
Assim ao ver um católico dizer “adoremos à cruz” não significa adorar dois paus cruzados, mas, através da imagem, através do objeto à nossa frente, adorarmos Deus em Seu gesto de Amor para nos salvar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.