Maria, a mãe
do Filho do Altíssimo
teve outros filhos com José?
Primeiro, que interesse há nesse assunto?
Para a Igreja Católica a questão
afronta uma de suas crenças, já transformada em dogma. A saber, a virgindade perpétua da Mãe de Jesus.
Para os minimizadores da figura de Maria o interesse está em dizer que, em havendo ela tido outros filhos com José então foi grande, muito venerável, mas uma “mulher igual às outras”.
Para os minimizadores da figura de Maria o interesse está em dizer que, em havendo ela tido outros filhos com José então foi grande, muito venerável, mas uma “mulher igual às outras”.
Nisso há pelo menos dois erros a se considerar:
1.
Por um lado, pensar que se Maria realmente teve
outros filhos então isso a diminui quanto ao que o catolicismo pensa dela. Mas
a verdade é que, tivesse Maria tido outros filhos com José isso em nada mudaria
a compreensão que temos de seu significado e grandeza na história do processo
de redenção e salvação dos homens. Pois o ato de gerar filhos não foi
decorrência do pecado. Adão e Eva, ainda imaculados, foram determinados por
Deus a terem muitos filhos. Portanto, tivesse a mãe de Jesus tido outros filhos não estaria a pecar. Estaria sim fazendo o que foi determinado à Eva quando ainda
imaculada.
2.
Não entender o que a Igreja realmente quer dizer com a expressão “virgindade perpétua” da Mãe de Jesus.
Não se trata de meramente considerar a integridade anatômica, em si, mas dois
outros valores, maiores e associados ao fato dessa integridade: a virgindade de Maria tornou-se um grande e
majestoso sinal de Deus.
Porque se trata, antes de tudo, da mais absoluta consagração à Deus. Pois ao responder ao anjo “faça-se em mim segundo tuas palavras” Maria estava,
de fato, dizendo: consagro total e inteiramente minha vida ao Senhor.
Mas vida em seu sentido mais concreto. Porque o resultado dessa consagração, que significou aparecer grávida, na situação de mulher judia já desposada por José, isso a expunha formalmente à condição de perder a vida, apedrejada como mandava a Lei fazer a todas as adúlteras.
Portanto, aquela mocinha judia, Maria, realmente colocou sua vida total e absolutamente nas mãos do Senhor.
Mas vida em seu sentido mais concreto. Porque o resultado dessa consagração, que significou aparecer grávida, na situação de mulher judia já desposada por José, isso a expunha formalmente à condição de perder a vida, apedrejada como mandava a Lei fazer a todas as adúlteras.
Portanto, aquela mocinha judia, Maria, realmente colocou sua vida total e absolutamente nas mãos do Senhor.
De fato, em Mateus vê-se que o primeiro movimento
de José foi repudiá-la. É verdade que não a queria apedrejada. Mas isso porque a pessoa Maria não se lhe mostrava apedrejável, mesmo com sua clara irregularidade
perante a Lei. José aceitou Maria porque convenceu-se
do mistério que acontecera a ela. Portanto
aceitou-a vendo-a em sua consagração.
Consagração testemunhada com a disposição de morrer como se fosse uma “adúltera”, negando qualquer outra possibilidade que não fosse a obra do Senhor nela.
Consagração testemunhada com a disposição de morrer como se fosse uma “adúltera”, negando qualquer outra possibilidade que não fosse a obra do Senhor nela.
Com isso tem-se que a virgindade de Maria serviu
para ela mesma como tão forte sinal de Deus quanto, mais tarde, a ressurreição
de seu filho, Jesus, para todos os apóstolos. Esse grandioso e majestoso sinal ela O teve em
seu ventre, em seu seio. O teve cara a cara, por trinta anos, dia após dia, em todas as
horas do dia. Portanto, a experiência da Mãe do Senhor com o Deus de Abraão é
maior do que a de Adão e Eva quando o Senhor Iahweh lhes aparecia “ao final da tarde”,
como diz o Gênesis. Deus se apresentou à Maria não só desse modo, no orar, no contempla, mas, repito, com o grande e
majestoso sinal de fazer-se gerado nela. Não como filho dela com José, mas com
o poder direto e exclusivo do próprio Deus para fazer dela a mais singular e exclusiva “mãe” de toda a história humana. Aliás, de toda a história do Universo.
Mas o que, nas Escrituras, dá azo à questão de saber se essa
“Mulher”, tão especial, teve ou não outros filhos?
A.
Há textos que realmente falam de irmãos e irmãs
de Jesus.
Chegaram sua mãe e seus irmãos e,
ficando do lado de fora, mandaram chamá-lo. Havia uma multidão sentada em torno
dele. Disseram: "Eis que tua mãe, teus irmãos e tuas irmãs estão
lá fora e te procuram”.
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Sua mãe e seus irmãos chegaram até ele, mas não podiam abordá-lo por causa da multidão. Avisaram-no
então: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora, querendo te ver”.
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Estando ainda a falar à
multidão, sua mãe e seus irmãos estavam fora procurando falar-lhe.
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Depois disto, desceram a
Cafarnaum, ele, sua mãe, os irmãos e os seus discípulos e ali ficaram apenas alguns dias.
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E até são citados nomes.
Não é ele o filho do
carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago, José,
Simão e Judas? E as suas irmãs não vivem todas entre nós?
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B.
O primeiro
dado a ser verificado é que em nenhum momento os
evangelhos dizem que Maria teve outros filhos. Fala-se em “irmãos de Jesus”,
mas não filhos de Maria.
Na Carta aos Gálatas, (1, 18-19)
Paulo diz:
“Depois, três anos mais
tarde, fui a Jerusalém, para conhecer Cefas, e fiquei com ele quinze dias. Não
me encontrei com nenhum outro apóstolo, a não ser com Tiago, irmão do Senhor."
E, como vimos, em Mateus consta que alguns judeus
indagavam-se:
"Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe?
Não são seus irmãos Tiago, José Simão e Judas?" (Mt
13, 55).
Portanto, há, de fato, um Tiago,
apresentado como “irmão do Senhor”;
e que é apóstolo.
Mas seria ele também filho
de Maria? Ou, ao menos, filho de José?
Na lista dos apóstolos há dois Tiagos: um, filho de Zebedeu; outro, filho
de Alfeu. O Tiago a que Paulo refere “irmão
do Senhor” é o filho de Alfeu, conhecido como “´Tiago menor”, no sentido de
“o mais novo”. No entanto, como os pais de um e outro são perfeitamente
identificados (Zebedeu e Alfeu) nenhum dos dois evidentemente, é filho de José.
Vejam-se em paralelo três relatos sobre o momento da crucificação em que esse nome reaparece.
Mateus
(27, 55-56)
|
Marcos
(15, 40-41)
|
João
(19, 25)
|
"grande número de
mulheres estava ali, observando de longe. Elas haviam acompanhado Jesus desde
a Galiléia, prestando-lhe serviços. Entre elas estavam
Maria Madalena,
Maria, mãe de Tiago e de
José
e a mãe dos filhos de Zebedeu."
|
"estavam ali também
algumas mulheres olhando de longe; entre elas
Maria Madalena,
Maria, mãe de Tiago
Menor e de Joset,
e Salomé.
|
"junto à cruz de
Jesus, estavam de pé
sua mãe,
a
irmã de sua mãe, Maria de Cléofas,
e Maria Madalena."
|
Daqueles quatro nomes citados
como “irmãos de Jesus”, Tiago,
José, Simão e Judas, dois, no caso, Tiago e José, estão presentes aqui, indicados como filhos de outra Maria.
Agora observa-se em João uma irmã da Mãe de Jesus presente à crucificação. Não se tem
absoluta certeza de João estar a referir três ou quatro mulheres; se a irmã da Mãe de Jesus e Maria,
mulher de Clopas, são as mesmas pessoas.
De qualquer modo, dizer que ali se encontrava uma “irmã de sua mãe” já significa apontar uma parenta muito próxima. E pelo paralelo é possível deduzir que ela seja a outra Maria, mãe de “Tiago menor, aquele apontado
por Paulo como, o irmão do Senhor, e apóstolo”. Portanto, seria um primo de Jesus.
No contexto linguístico daquele povo a expressão “irmãos” não tinha o mesmo significado na cultura judaica quanto tem na nossa, quando nos referimos aos filhos de uma mesma genitura. Os nomes citados poderiam referir-se a parentes próximos; que no hebraico e aramaico eram muito comumente assim tratados. E mesmo tendo sido os Evangelhos escritos na língua grega, refletem o modo de pensar hebreu; tendo como exemplo desse pensar o seguinte trecho do Levítico (10,1; 2; 4; 5).
Os filhos de Aarão, Nadab e Abiú, tomaram cada um o seu incensório... Saiu então de Iahweh uma chama que os devorou... Moisés chamou Misael e Elisafã, filhos de Oziel, tio de Aarão, e disse-lhes: “Aproximai-vos e levai vossos IRMÃOS para longe do acampamento”. Eles aproximaram-se e os levaram em suas próprias túnicas.
Misael e Elisafã eram filhos de Oziel; enquanto Nadab e Abiú eram filhos de Aarão. Oziel, por sua vez, era tio de Aarão. Portanto, Misael e Elisafã eram primos de Nadab e de Abiú. Entretanto, Moisés chama-os e diz: “Levai vossos Irmãos”.
Oziel
|
Tio
®
|
Aarão
| ||||||
p
a
i
|
p
a
i
| |||||||
Misael e Elisafã
|
Primos
®
|
Nadab e Abiú
| ||||||
“Levai vossos IRMÃOS”
| ||||||||
C.
Em Gn 13,8 vemos Abraão dizer a Ló: "Que não haja discórdia entre mim e ti, entre os meus pastores e os teus, pois somos irmãos!”. Mas, quem era Ló e quem era Abraão para se tratarem como irmãos? Seriam filhos do mesmo pai, ou filhos da mesma mãe? Não! Ló era, tão somente, um sobrinho de Abraão, como consta em Gn12,5: “Abraão tomou sua mulher Sarai, seu sobrinho Ló...”.
D.
Algo semelhante se vê em Gn 29,15 quando Labão fala a Jacó: “Por seres meu irmão, servir-me-ás de graça”. Entretanto, Gn 27,43 mostra Labão como irmão de Rebeca; a qual era mãe de Jacó. Portanto, na verdade Labão era tio de Jacó.
Ora, os textos falam por si, e mostram o costume do povo bíblico de nomear irmãos àqueles genericamente reconhecidos como parentes. E este fato desautoriza afirmar, com base em Mc 6,1-6, que a mãe de Jesus teve outros filhos. No mínimo, e em nome da objetividade, e da honestidade intelectual, haveríamos de nos conformar, no máximo, com a insuficiência de clareza no texto.
PORTANTO,
não obstante a aparente clareza de haver a citação de
irmãos e irmãs de Jesus isso apenas abre possibilidade para a discussão se Maria teve ou não outros filhos. Mas, repito, em nenhum momento é dito que ela os teve. Ou seja, Marcos, assim como Mateus e Lucas, em nenhum momento faz afirmação positiva. Não diz que Tiago, José, Judas e Simão são filhos de Maria. Fosse essa a expressão, “filhos de Maria”, então seríamos
obrigados a reconhecer, sem delongas, que Maria teria tido sim outros filhos. Mas, ao contrário, a frase até sugere
exclusividade. Diz: “Não é ele o
carpinteiro “o” filho de Maria?”. E
não, “um dos filhos de Maria”. E.
Outra ponderação. Lê-se em Mt 1,
25: “Mas
[José] não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho”.
A expressão “até o dia” parece dizer que depois teria, sim, havido conjunção
carnal. Porém, o texto não pode ser entendido desse modo, pois o que Mateus
quer dizer é que Maria concebeu Jesus em estado de virgindade, sem perspectiva
se teria, ou não, permanecido virgem. De fato, há casos em que na própria Bíblia
usa-se a expressão “até que” com esse
sentido. Exemplo, quando é dito que "Micol, filha de Saul, não teve
filhos até o dia de sua morte" (II Sm 6,23). Isto, evidentemente,
não quer dizer que ela o teve depois de morta.
F.
Outra, lê-se em Lc 2,4-7:
Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, e
ela deu à luz o seu filho primogênito,
[grifo nosso] envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não
havia lugar para eles na hospedaria.
Aqueles que continuam e continuarão a achar que a Mãe do Filho do Altíssimo teve com José outros filhos não a denigrem por isso. Apenas se mostram míopes ou com visão viciada por viseiras ideológicas contra o catolicismo a ponto de buscar qualquer coisa que possa afrontá-lo. Mesmo que seja minimizando a Mãe do Senhor.
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